
Hoje estou me sentindo estranha... levantei e nem forrei a cama... me sinto como Macabéa... ou melhor, como Clarice Lispector. São muitos pensamentos que eu não consigo organizar...todo mundo tem dias assim, não? Clarice tinha boas frases, boas respostas. Uma vez perguntaram a ela por que ela escrevia... ela respondeu: para não enlouquecer... e é exatamente assim que me sinto... escrever é a única coisa que me faz colocar os pensamentos em ordem... falando assim eu me sinto tão louca! Hoje é o meu dia "a la Clarice"... vê isso:
“Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.”
Juro que parece comigo... kkkkkkkkkk...
Clarice Lispector é uma escritora brasileira nascida na Ucrânia. Ela seguia a linha introspectiva e olhando-a de longe não parecia normal... "Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise." (Wikipédia)
Vale a pena descobrir Clarice Lispector... eu recomendo "A hora da estrela". É talvez o romance mais famoso dela. Narra a história de Macabéa, alagoana que vai para o Rio de Janeiro... acaba morando numa pensão e sua rotina é contada por Rodrigo S.M. - um narrador fictício. Parece pecado resumir um livro tão complexo em tão poucas linhas... esse livro é carregado de emoções... e Macabéa, a protagonista, é um nada. Isso mesmo, um NADA. Muitos podem pensar... "ah, ela é como um anti herói"... não. Ela é um nada mesmo. Uma garota tímida, romântica, preguiçosa, sem hábitos de higiene, burra (ou inocente?), feia, muito feia... nem seu namorado a enxergava... o desfecho da história é algo surpreendente. Uma das colegas de quarto dela acaba seduzindo seu namorado (um idiota)... Macabéa vai a uma cartomante e ela diz para a protagonista que ela vai encontrar um homem lindo, estrangeiro... Macabéa encontra esse homem. Na verdade, ela é atropelada por ele. Eis que surge a HORA DA ESTRELA, onde pela primeira vez as pessoas enxergam Macabéa... ela estendida morta... no chão. O leitor fica perplexo ao fechar o livro... deve-se sentir raiva ou pena de Macabéa? Porque ela era tão inerte? Tão parada? Mas, ao mesmo tempo, sente-se pena dela... "tadinha, morreu e nem conseguiu o que queria"... Macabéa nunca soube quem era ou o que queria de verdade... isso dá pena.
Enfim... esse blog está meio devagar, não? Faço minhas as palavras de Clarice: "Não tenho tempo para mais nada. Ser feliz me consome muito."
Curiosidades sobre Clarice:
- Clarice verteu para o português, em 1976, o livro Entrevista com o Vampiro, da autora estadunidense Anne Rice.
- Ainda jovem, à época esposa de diplomata brasileiro, serviu como voluntária na campanha da Itália durante a II Guerra Mundial, no corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira.
- Em artigo publicado no jornal The New York Times, no dia 11/03/2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice.
“Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.”
“Ter nascido me estragou a saúde”
"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."
“Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia”
“Não se conta tudo porque o tudo é um oco nada.”
“Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir.”
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”
“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”
‘A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”
“Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.”
“É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.”
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.”
Por enquanto é só, pessoal! Espero que tenham gostado!
fui.
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