sábado, 19 de setembro de 2009

"Aula de Antropologia"


Hoje é sábado.
Infelizmente quebraram as pernas do meu dia tão amado. Simplesmente o professor de Antropologia inventou de colocar a apresentação do meu seminário para um sábado... sim, um sábado nada a ver com a aula.
Enfim... inicialmente eu fiquei "fula da vida", posteriormente.... eu continuei "fula". Embora eu tenha gostado da apresentação e do resultado geral da atividade.
O seminário foi baseado nas brigas de galo balinesas. Bali é uma ilha situada no sudeste asiático, ali na Indonésia... (imaginem como eu fiquei... "puts, ter que ir para a universidade no sábado para falar sobre brigas de galo... aff"). Mas, ao olhar mais de perto, eu percebi que pode até ser um assunto interessante na medida em que percebe-se que a briga de galo é um espelho da sociedade balinesa.
Os balineses são um tanto reservados e retraídos em sua vida cotidiana, mas numa rinha eles se transformam e extravassam, tornam-se praticamente "animalescos", por assim dizer. E pode parecer um paradoxo quando ao olharmos mais de perto vemos a ojeriza que esse povo tem por tudo que é animalesco, bestial.
Chegamos àquele ponto crítico de todo curso de Antropologia I : Natureza X Cultura. O povo balinês tem pavor de tudo que seja animalesco ou selvagem (por exemplo, crianças não podem engatinhar por lembrar movimentos animais), mas ama os galos e as rinhas. Inicialmente isso deu um nó na minha cabeça, até eu perceber, com a ajuda do professor, que tal fato não se trata de um paradoxo se percebermos que o povo balinês vai às brigas de galo para refletir (no âmbito inconsciente) como não se deve agir cotidianamente. Ou seja, do ponto de vista do autor do livro, ir às brigas de galo, para os balineses, é um tipo de educação sentimental.
A partir de então, as brigas de galo tomam um aspecto mais empolgante que o inicial. Ao nos aprofundar, percebemos o valor simbólico que o galo possui para os balineses e o que realmente importa para a sociedade balinesa. O que realmente importa para a sociedade balinesa? Eu responderia: o status. Claro que o dinheiro é importante, já que movimenta tudo, mas o status é o que realmente visam aqueles que vão às brigas de galo. O status é visto como capital simbólico, e quanto maior o status daqueles envolvidos na briga, mais envolvente ela será.
As apostas seguem um padrão. Há as apostas grandes (as formais, feitas por aqueles de status superior) e as pequenas (que ocorrem de modo informal e são feitas na periferia da rinha). Saibam vocês, que os balineses de uma determinada aldeia não apostam em galos de outra aldeia, e do mesmo jeito ocorre com os parentes. Um balinês apostará sempre no galo de um parente, mesmo que este seja o mais fraco dos dois.
O mais curioso é que apesar da sociedade balinesa não ter uma divisão sexual do trabalho (das atividades econômicas), a briga de galo é vista como algo tipicamente masculino. Creiam, leitores, que as mulheres não podem sequer ver o esporão (arma pontiaguda que se amarra na pata do galo) e muito menos apostar. As mulheres, adolescentes e os extremamente pobres ficam marginalizados na rinha e só podem apostar em jogos de azar (roleta, dados...).
O autor ainda tem um ponto de vista interessante quando comenta que "a cultura deve ser vista como um texto", ou seja, deve ser lido e interpretado. O balinês vai à briga de galo para experimentar como se sente uma pessoa retraída ao ser desafiada e confrontada. O balinês vai à briga de galo principalmente para descobrir seu temperamento e o de sua sociedade. A briga de galo não é apenas um aspecto da sociedade balinesa, é um espelho dela: hierarquizada, masculina, focada no status.
Fazendo minhas as palavras do autor: "as sociedades, como as vidas, contêm suas próprias interpretações. É preciso apenas descobrir o acesso a elas". E foi então que eu vi que briga de galo não era um assunto tão desinteressante assim...
Ao sair da sala de aula, por volta das 12:30h, eu continuava "fula" por ter perdido a manhã do meu sábado (poxa... cortaram as pernas do meu dia favorito da semana...), mas eu era uma "fula" um pouco menos cega...

Gostaram do resumo? Que tal ler na íntegra?
GEERTZ, Clifford.1978. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahan editores.
Capítulo 9 -> Um jogo absorvente: Notas sobre a briga de galos balinesa.

Um comentário:

  1. Bem, eu participei desse momento 'fulo' e posso dizer que foi realmente um saco passar meu sábado numa universidade deserta, aquele professor é um modefocker que não tem nada pra fazer e fica inventando, mas de certa forma o aprendizado foi muito bom.
    O blog tá ótimo,se for depender do seus apuros pra postar então ele vai encher rapidinho, faça dele seu palco de idéias, xeruuuu
    Daya Devi

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