sábado, 19 de setembro de 2009

"História sem nome"


Eu me encontro "vagando" pelo mundo virtual na madrugada e sem idéias para o blog. No entanto, como quem escreve sempre tem sobre o que falar... alguém quer ler um pedaço da história que estou escrevendo??
Lá vai:

Capítulo UM

Era uma noite comum na cidade de Black Water, as estrelas estavam no céu e fazia calor. Pelas ruas desertas da madrugada via-se um jovem de cabelos negros lisos, pele branca, olhos azulados e estatura acima da média – era um jovem muito bonito- seu nariz era afilado e seus olhos pequenos... Tinha uma boca avermelhada e bem desenhada, seus dentes eram brancos e alinhados. Em seu pescoço podia-se ver que era cristão, pois reluzia o brilho de um crucifixo prateado. Suas roupas eram comuns... Calça marrom e blusa branca, suas botinas estavam um tanto desgastadas. Percebia-se que era um jovem de classe média bem comum. Ele caminhava pelas ruas de paralelepípedo apressadamente, pois no século XVIII não era de bom tom permanecer na rua até altas horas, apesar de Black Water ser um vilarejo bem tranqüilo.

O jovem caminhava rumo a sua casa, que ficava a poucos quarteirões dali. Voltava ele da casa de sua noiva, garota pela qual se encontrava perdidamente apaixonado – um mal (ou dádiva?) da juventude. Era uma garota de família tradicional que tinha a ousadia da inteligência e a virtude da generosidade... Na mente do nosso personagem passavam flashes de memórias sobre sua amada... Lembrava ele de seus longos cabelos ruivos, de suas sardas, de seus olhos azuis... Ele caminhava sorridente pelas ruas mal iluminadas, pensando no próximo poema que escreveria para ela, sua musa inspiradora.

Seu processo criativo fora interrompido por uma voz rouca e assustadora que pedia:

- Por favor, dê-me alimento, meu jovem.

O garoto se assustou e viu que a voz vinha de um velho que estava sentado num beco, onde a luz que mal iluminava as ruas não podia chegar. O velho repetiu seu pedido, e vendo que o garoto não se movera, resolveu sair da escuridão. O velho estava completamente sujo, e apesar da idade que aparentava não parecia ter problemas de locomoção. Ao olhar mais de perto aquela pessoa assustadora, viu um olhar assassino por entre os olhos avermelhados e quando voltou a si, resolveu correr... Não poderia vir boa coisa daquela situação.

O jovem correu o mais que pode, mas o velho corria atrás dele!

- O que é isso, meu Deus? Esse velho corre como um moleque! Ajuda-me, Pai! Tira-me dessa encrenca! Nunca mais eu saio tão tarde assim – orava o jovem.

Ele continuava correndo, mas já estava se cansando, e suas botinas velhas não o ajudavam em absolutamente nada. Sua respiração estava ofegante e de vez em quando olhava para trás para ver se o louco ainda o seguia. Depois de uns dez minutos de perseguição, o garoto não viu mais o maluco atrás dele e sentiu-se seguro.

O jovem parou de correr, colocou as mãos sobre os joelhos e tentou recuperar a respiração ao mesmo tempo em que agradecia a Deus. Ao observar o quanto correra percebeu que se encontrava a poucos metros de sua casa, que ficava na Rua dos Alfaiates. Era uma casa de grandes janelas e portas de madeira, bem ao autêntico estilo europeu. Sua casa possuía jardins bem cuidados, obra de sua mãe, e o que ele mais gostava era um banco de ferro fundido que ficava entre dois pinheiros de médio porte, na parte de frente da casa, de modo que da rua podia-se admirá-los através dos portões de ferro escuro.

Ele levantou-se e caminhou em direção a sua casa, abriu o portão e foi para o jardim. Sem querer pisou nos gerânios de sua mãe – “amanhã ela me mata” – pensou ele. Sentou no banco de cor branca e ficou um momento ali, entre os pinheiros, pensando no que tinha acontecido. Ele não conseguia entender como um velho podia correr tanto, nem em que momento o louco tinha desistido da competição... “Por favor, dê-me alimento, meu jovem”- tal frase estava ecoando em sua cabeça. Aqueles olhos vermelhos assustadores não o deixavam em paz. E quando ele já estava achando que tudo era passado, um gelo percorreu-lhe a espinha e o fez observar melhor o pinheiro do seu lado direito... Duas luzes vermelhas na escuridão estavam olhando fixamente para ele... O jovem até tentou se levantar, mas sentiu-se imóvel... Aquela sensação de medo era desesperadora, incapacitante.

O velho então saltou da árvore e pulou em cima do nosso personagem principal. O garoto tentou lutar com o louco, deu socos, empurrões... O que ele mais queria era sair dali. Mas de repente sentiu duas agulhas perfurar-lhe seu braço direito. Sentiu uma dor indescritível, um misto de formigamento, coceira e dor aguda, sentiu seu sangue ser sugado das suas veias... Sentiu sua força ser sugada com ela... E por mais que quisesse correr, não conseguiria se mover... Alguns segundos após a mordida colocou-se de joelhos sobre a grama e entregou-se, ele só gostaria que tudo aquilo tivesse fim, mas apesar de tudo, o velho não desistia de sugar seu sangue... O jovem então implorou:

- Por favor... Deixe-me ir... Por favor...

Alguns segundos antes da total inconsciência do jovem, o velho o largou e deixou-o ensangüentado sobre a grama do jardim que ele tanto gostava, à frente de seu banco tão familiar... Entre os pinheiros tão nostálgicos. Antes de sair pelo portão, o velho ainda murmurou:

- Obrigada por me alimentar! Adoro sangue jovem.

O garoto estava praticamente inconsciente, mas xingou aquele maluco mentalmente – “seu filho da puta, alimento é a sua madrinha... seu louco... se eu sobreviver você está ferrado”- mas naquele momento a dor era tão grande que ele definitivamente achava que não iria sobreviver.

Seus pensamentos estavam ficando confusos, a dor era tão delirante... Seu corpo e seu cérebro se contorciam. Suas memórias passavam velozmente diante de seus olhos, sua mãe, seu pai, sua irmã, sua namorada... Tudo de bom que ele já vivera.


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